A Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) desenvolve forma de utilizar os resíduos da gerados para obter produtos da cana-de-açucar e as cinzas resultantes da queima do bagaço em caldeiras, eles estão sendo aproveitados na produção de fibrocimento, material usado na fabricação de produtos como telhas, caixa d’água e divisórias. O processo consiste em substituir alguns dos componentes que formam o fibrocimento pela fibra do bagaço da cana e pelas cinzas.
De acordo com o pesquisador Ronaldo Soares Teixeira, autor do trabalho, o objetivo é de buscar uma nova forma de aproveitar esses resíduos, que são habitualmente descartados pela indústria. “Eles normalmente são subaproveitados. Parte do bagaço é queimada em caldeiras, tornando-se cinzas; o bagaço até tem outros empregos, como nas rações para animais, mas a maior parte é descartada”, ressaltou o pesquisador. Estimou que, de cada tonelada de cana-de-açúcar processada, 260 quilos são transformados em bagaço.
Normalmente, o fibrocimento é composto por cimento, sílica ativa, água, polpa celulósica como reforço secundário e fibra sintética, como PVA e PP (tipos de plástico). O estudo de Teixeira utilizou a fibra do bagaço de cana como um reforço na produção de fibrocimento, enquanto as cinzas substituíram 30% do cimento em massa. “A cinza apresenta grande concentração de sílica, que tem comportamento de cimento pozolânico. A cinza, em contato com a água e em conjunto com cal hidratada, forma um composto aglomerante, ou seja, ela endurece”, explicou Teixeira.
Depois de vários testes, o pesquisador comprovou que o fibrocimento produzido com resíduos sucro-alcooleiros é viável e apresentou resistência similar ao material produzido nas indústrias. O fibrocimento da pesquisa passou por dois processos de cura (endurecimento). Com isso, o pesquisador testou a resistência do material sob condições de calor e umidade, simulando exposição a sol e chuva. “A fibra passou por tratamento químico (à base de silicato de sódio e sulfato de alumínio) com a intenção de diminuir a absorção de água e assim diminuir a degradação da fibra”.
Método
O método de extrusão para criar o fibrocimento é inédito no Brasil. A imagêm mostra a máquina usada |
Para criar o fibrocimento, Teixeira utilizou um processo chamado extrusão, método alternativo para a produção do material cimentício. O pesquisador orienta que a máquina, chamada extrusora, contém uma rosca sem fim dividida em três câmaras: mistura, pressão negativa e compressão. Na extremidade da rosca, encontra-se a boquilha, que promove a compactação final da mistura e forma a geometria do produto.
“Quando se coloca a mistura dos componentes do fibrocimento na extrusora, a rosca sem fim faz a massa fluir sob pressão crescente através das câmaras, forçando-a sair no formato que se desejar, formando o fibrocimento” detalha.
O pesquisador diz que o método foi usado somente para fins acadêmicos, sem pensar em sua adequação para as indústrias, num primeiro momento. “A extrusora normalmente é utilizada na indústria de cerâmica. Na pesquisa, ela foi adaptada para produzir fibrocimento”, informou.
Teixeira desenvolveu o estudo em sua dissertação de mestrado pela EESC, sob orientação do professor Francisco Antonio Rocco Lahr, do Laboratório de Madeira e de Estruturas de Madeira (LaMEM) da Escola. O trabalho teve cooperação com laboratório de Construções e Ambiência, coordenado pelo professor Holmer Savastano Junior, na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga. Nele, Teixeira continua fazendo mais testes com o fibrocimento.
(Fonte: Agência USP)
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